CRÍTICA: X-MEN APOCALYPSE (COM SPOILERS)



Se você está lendo isso parabéns, você foi alfabetizado já deve ter assistido ao novo filme dos mutunas. Caso não, cuidado com os spoilers. Como a maioria das adaptações de quadrinhos deste ano "X-Men: Apocalypse" teve muitas reações polarizadas porém é importante focar no meio termo entre quem amou ou odiou o filme, pois é justamente onde se encontra sua nota: na média. Não é um desastre como o último "Quarteto Fantástico" mas passa longe de ser empolgante. Vamos então checar os pontos positivos e negativos do novo filme dos Xis Mem.


- O QUE DEU CERTO

MANIFESTAÇÃO DA FÊNIX

Todos sabem que a versão da Fênix Negra usada em "X-Men: O Confronto Final" foi má utilizada e pouco desenvolvida, não conseguindo fazer jus à clássica saga de Claremont e Byrne. Agora com Sansa Stark Sophie Turne substituindo Famke Janssen no papel de Jean Grey vemos uma versão da Fênix como extensão do próprio poder natural da mutante. Podemos ver a Fênix se manifestando em Jean quando ela libera seu poder por completo e, além de ser crucial para o desfecho da trama, esse fator abre um gancho para o desenvolvimento da personagem e o possível (até provável) descontrole de Jean sobre seu próprio poder.

MOTIVAÇÕES DE MAGNETO

Agraciado com o melhor ator da saga (incrível como Michael Fassbender sempre entrega o seu melhor em cena) Magneto passa por muitas alterações durante a trama. De operador de maquinário e pai de família até membro dos cavaleiros de Apocalypse e depois quase membro honorário dos X-Men, todos os motivos que o levam a trocar de lado/ideologia funcionam de modo orgânico. E, claro, o retorno do personagem não era imprescindível mas sua presença não afeta o progresso da história.

MERCÚRIO COMO ALÍVIO CÔMICO


O retorno do Mercúrio que vale (que continua humilhando a versão de Era de Ultron) funciona de modo natural e encaixa muito bem como alívio cômico em diversos momentos do filme. Uma possível parceria com Noturno pode render situações bem divertidas nos vindouros filmes da franquia.


BATALHAS FÍSICAS E MENTAIS

Algo bastante positivo durante o clímax da batalha entre os mutantes é justamente o paralelo criado entre as lutas físicas e os embates mentais. E tal recurso fica claro quando Apocalypse mesmo enfrentando Mística consegue duelar psiquicamente com Xavier, seguido da obliteração que Jean como Fênix impõe ao vilão simultaneamente nos plano físico e psíquico.


RELAÇÃO DE PSYLOCKE COM OS MORLOCKS

Ainda que pouco desenvolvida como personagem foi interessante ver que Psylocke possui raízes com os Morlocks, mutantes que vivem no submundo/esgotos - geralmente por conta do preconceito agressivo dos humanos, em uma relação oriunda dos quadrinhos.


WOLWERINE ARMA X

A princípio a inserção de Wolverine na trama pode parecer um pouco forçada, talvez até fruto da admiração quase obsessiva que o diretor Brian Synger tem pelo personagem e por Hugh Jackman. No entanto a sua cena dentro do filme talvez demonstre a melhor e mais interessante adaptação de Logan dentro do Projeto Arma X. Além do visual bem semelhante a famosa saga dos quadrinhos a sequência também nos permite ver o Wolverine de verdade (violento, animalesco e incontrolável) pela segunda vez nos cinemas - apesar do personagem já ter aparecido em oito filmes da franquia dos mutantes. Caso você não lembre o outro momento true Wolverine ocorreu na invasão ao Instituto Xavier em "X-Men 2".




        


MORTE DO ANJO

Até porque, sinceramente, quem se importa com o Anjo?





- O QUE DEU ERRADO

VILÃO SUBAPROVEITADO

Apesar de não manter o visual Ivan Ooze que algumas imagens das filmagens indicavam, o vilão simplesmente não funciona. E não é somente pela atuação pouco vibrante de Oscar Isaac, mas sim porque o personagem não consegue impôr a presença impactante que o antagonista demanda e tampouco inspira o medo que seria reação natural as suas intenções e poderes mutantes. Apocalypse tem potencial para ser um inimigo de escala global, no entanto ele se torna um vilão vazio em que nenhum momento surge como uma ameaça de perigo real. 

DESENVOLVIMENTO DOS PERSONAGENS


Quando se tem muitos personagens em tela é complicado conceder o tempo necessário para que cada um desenvolva sua personalidade e suas relações entre si. E isso fica claro quando vemos, ou melhor, deixamos de ver qualquer progresso particular dos quatro cavaleiros de Apocalypse. A única que possui um mínimo de background de personalidade (além do vilão-mocinho Magneto) é Tempestade, que mostra sua admiração pela Mística - que no enredo é vista como heroína dos mutantes por conta do final de Dias de Um Futuro Esquecido.
Já Psylocke e Anjo parecem androides que apenas lutam e praticamente não possuem falas nem desenvolvimento de personagem. E com Kodi Smit-McPhee substituindo Alan Cumming tivemos uma bela reintrodução do Noturno, com algumas pinceladas da sua ingenuidade cômica e religiosidade. Precisamos ver mais!

PASSAGEM DE TEMPO SEM ENVELHECIMENTO

Em "X-Men: Primeira Classe" a trama se passa na década de 1960. Já em "Dias de Um Futuro Esquecido" a história ocorre nos anos 1970. E agora, temos o retorno de Apocalypse na melhor década de todas  na década de 1980. Apesar da nova franquia dos mutunas se passar durante espaços de tempo diferentes os personagens simplesmente não envelhecem! Dez anos se passaram desde o filme anterior e o Mercúrio continua um adolescente, o Fera continua com cara de criança e os amigos Magneto e Xavier não ganharam rugas - apesar de um perder as longas madeixas. Esse aspecto não atrapalha a trama em si, mas prejudica a linha temporal estabelecida, que convenhamos, quando se trata de X-Men, é algo que já saiu dos trilhos há tempos. E com os rumores de que o próximo filme se passará na década de 1990 tal fator se manterá, uma vez que os atores mais jovens serão mantidos nos elencos. Talvez um poder mutante secundário a todos que possuem o gene X seja o envelhecimento tardio...

MÍSTICA COMO X MEN

Além disso, o fator "atriz oscarizada e super cool" parece que impede que pensem que Jennifer Lawrence como vilã. Continuam atribuindo conceitos de heroína à personagem - apesar da própria Mística refutar essa característica durante o filme - e mesmo seus atos vilanescos não possuem motivações malignas. E para completar ela encerra o filme como membro ativo dos X-Men, quase como que uma segunda força em comando. Este cenário é um desperdício já que Mística é uma das vilãs mais provocantes nos quadrinhos e uma antagonista que sempre causou desafios interessantes aos X-Men.


MÍSTICA FORA DA SUA VERSÃO ORIGINAL

Já sabemos que Jennifer Lawrence está cansada de interpretar Mística e não aguenta mais utilizar a maquiagem azul da personagem (o que concordo deve ser realmente incômodo) e portanto a trama tenta se adaptar para que ela apareça mais na sua versão branca e loira. O problema é que, além de descaracterizar a personagem, este recurso inviabiliza traço de personalidade de aceitar sua aparência que já foi atribuído à Mística nas duas trilogias dos mutantes!











PASSIVIDADE DOS HUMANOS 

Ok, entendemos que os humanos são meros espectadores nas aventuras mais megalomaníacas dos mutantes, mas é incompreensível a falta de atuação deles para evitar o ato terrorista que Apocalypse LITERALMENTE FALOU NA MENTE DE TODO MUNDO. Não digo que qualquer ação dos humanos poderia ajudar no combate, mas tivemos exemplos em outros filmes onde o governo agiu, como o míssil enviado pelos militares tanto em "Vingadores" como em "Batman vs Superman".





- O QUE DEU MAIS OU MENOS CERTO

MUTANTES ADOLESCENTES E CENA DO SHOPPING

Um dos aspectos mais interessantes dos X-Men sempre foi a relação entre os personagens, principalmente entre os mutantes mais jovens. Sempre foi mais atraente acompanhar o progresso de adolescentes que, além da puberdade, precisam lidar com os seus poderes e com as habilidades de seus amigos mutantes - fora o preconceito exercido pelos humanos. As histórias dos X-Men cativam justamente quando focam nos relacionamentos entre os jovens estudantes de Xavier e o contraste social entre mutantes e humanos. Eu pagaria muito mais para assistir um filme dos X-Men à la "Clube dos Cinco" do que uma versão megalomaníaca com vilões super poderosos. 









A analogia dos mutantes com as minorias da sociedade é muito rica e permite mostrar que o embate mais complicado pode ser justamente superar seus próprios defeitos e enfrentar o preconceito. Além disso, reduzir a cena do shopping onde Jean, Scott, Kurt e Jubileu vão assistir Star Wars no cinema foi um erro. Seria melhor cortar tempo da luta final contra Apocalypse para mostrar Jean e Scott segurando o disco da Cristal!




















CENA DO MERCÚRIO 

A cena do Mercúrio foi incrivelmente bem feita (talvez até mesmo melhor do que a feita em "Dias de Um Futuro Esquecido") e a duração mais extensa também agradou. No entanto a cena do filme anterior se encaixa organicamente no contexto e, principalmente, na música. A canção "Time In A Bootle" de Jim Grooce funciona como um complemento simbólico ao poder de Mercúrio e ainda possui a ótima justificativa do personagem a escutar no fone de ouvido. Já "Sweet Dreams" do Eurythmics, escolhida no novo filme, serve apenas para dar um ritmo empolgante à cena, empobrecendo a sequência no aspecto conceitual. Mas hei, eu adoro a música!




CICLOPE E MORTE DO DESTRUTOR

O rápido luto de Ciclope pela morte de seu irmão incomoda um pouco. É compreensível que a trama exija um ritmo diferente e que o falecimento do Summers mais velho funcione como um rito de passagem para Scott assumir seu papel entre os X-Men, mas cinco minutos depois do seu irmão morrer já temos Ciclope engajado em uma missão de resgate. Too soon, bro.

UNIFORMES PRETOS E COLORIDOS

Bryan Singer tem um problema sério em adaptar algumas coisas mais fiéis aos quadrinhos. No entanto, situar o filme na década de 1980 era a desculpa perfeita para permitir que os personagens usassem uniforme coloridos e de moda contestáveis. Mas vemos novamente o diretor encaminhar os heróis a usarem trajes táticos, deixando as opções coloridas apenas para os últimos segundos de tela. E quando ele utiliza o uniforme clássico como no caso da Psylocke - cujo figurino mais fiel às HQs foi uma exigência da atriz Olivia Munn - o diretor se perde no critério, uma vez que todos os cavaleiros de Apocalypse ganham uma armadura e Psylocke fica com um collant. Ok, né. 




No geral pode-se dizer que o filme funciona como ferramenta de entretenimento mas não traz nada de novo dentro da franquia. O enredo possui boas justificavas para evitar múltiplas mortes entre os personagens principais e apresenta um bom ritmo, algo essencial para um filme longo (coff BvS). De longe não é o melhor filme de heróis do ano e tampouco o melhor entre os filmes dos X-Men - na verdade fica acima apenas de "X-Men 3". Pode se dizer então, na melhor das hipóteses, que o filme é divertidinho. E eu quero ver mais do Noturno!