CRÍTICA: CAPITÃO AMÉRICA - GUERRA CIVIL (COM SPOILERS)




O 13º filme da Marvel Studios possui na sua premissa o propósito de realizar um contraste com suas obras anteriores. A ideia de trazer à tona as consequências das ações dos próprios heróis busca arranhar o padrão criado até então, mas é possível perceber que o status quo não é tão afetado como se poderia imaginar. Apesar da discussão ser interessante e das relações entre os personagens sofrerem mudanças, o filme consegue criar as pontas necessárias para serem reatadas no futuro cinematográfico da Marvel, mais especificamente em Vingadores: Guerra Infinita.

O que vemos em Guerra Civil pode ser considerado uma sequência direta tanto de Vingadores: Era de Ultron quanto de Soldado Invernal, filme anterior do Capitão América. Havia muitos boatos de como a trama poderia tender para uma espécie de Vingadores 2.5 visto o grande número de personagens presentes na história. No entanto, o roteiro consegue aliar os fatos ocorridos em Era de Ultron com uma sequência orgânica dos eventos relacionados ao próprio Capitão América e seu relacionamento com o Soldado Invernal, ou simplesmente Bucky.



Um dos grandes méritos de Guerra Civil é o uso eficiente do plot device, o mecanismo de roteiro inserido em determinado momento do filme e resgatado posteriormente para encerrar/criar outra situação. Nesse caso temos o assassinato dos pais do Homem de Ferro pelas mãos do Soldado Invernal ainda sob controle da Hydra. Ao ser introduzido no início do filme esta cena se torna importante para a motivação do confronto final entre os heróis e ao mesmo tempo é relevante para a trama particular de Bucky. Mesmo fugindo de comparações é inevitável não realizar o parâmetro com o mesmo recurso utilizado de forma equivoca em Batman vs Superman com o fator "Martha". 

Muitos afirmam que Guerra Civil é o melhor filme da Marvel e até mesmo o mais importante. É mais cabível afirmar que esse seja o filme mais ousado e, talvez, o mais relevante em termos de roteiro. No entanto é importante lembrar de filmes anteriores que possuem um desempenho mais satisfatório como o primeiro Vingadores, Homem de Ferro, Guardiões da Galáxia e o próprio Capitão América: Soldado Invernal. Talvez Guerra Civil consiga o mérito sim de ser a obra mais divertida da Marvel Studios até agora - ainda que Guardiões da Galáxia seja um páreo duro. A diversão citada deve-se muito à direção dos irmãos Russo, que parece se enquadrar perfeitamente na fórmula Marvel de fazer seus filmes: ação empolgante mesclada com ótimas cenas de humor e diversas referências aos quadrinhos originais. E isso é notável principalmente nas inserções naturais das piadas que são encaixadas nas lacunas certas e sem espaço para momentos forçados de humor. 




E é impossível citar o humor do filme sem fazer a relação direta com a estreia do Homem Aranha no universo cinematográfico da Marvel, ainda mais quando ele é responsável pelas cenas mais divertidas do filme. O novo - novo mesmo - Peter Parker é tudo o que o Homem Aranha deveria ser: engraçado, inseguro, inteligente e com senso de responsabilidade. É renovador enxergar na tela um Homem Aranha que conversa e faz piadas DURANTE as batalhas - nós vimos um pouco disso nos filmes com o Andrew Garfield, apesar do seu Peter Parker que anda de skate, ouve Coldplay solta pipa e joga bola ser uma lástima. E paralelamente Tom Holland consegue transmitir a sensação de ingenuidade e  o famoso desespero por dinheiro do personagem - tal qual a representação feita por Tobey Maguire. Ou seja, na sua participação de 20-30 minutos o novo Homem Aranha consegue ser uma mistura das partes positivas dos seus antecessores e ao mesmo ser algo totalmente novo e excitante.



"You have a metal arm? That's awesome, dude!"

Também é reconfortante não ser obrigado a assistir a morte do tio Ben novamente, tampouco a picada da aranha radioativa - "it's complicated" - e palmas para o roteiro que consegue transpor os ideais de "com grandes poderes vêm grandes responsabilidades" sem precisar usar esta frase novamente. A outra estreia ocorre por conta do Pantera Negra, que se encaixa muito bem no contexto da trama e consegue inclusive salvar tempo na mitologia de origem do herói - que deverá ser explorada no seu filme solo. As habilidades de luta do Pantera mostram algo totalmente novo dentro da cinematografia da Marvel, escapando um pouco da pancadaria crua e se concentrando mais na destreza e caráter animalesco dos seus movimentos. Também é possível perceber o seu equilíbrio espiritual/psicológico ao evitar ser consumido pela vingança pessoal, além do rápido vislumbre da sua terra natal, indicando que podemos esperar uma Wakanda bastante tecnológica e com grande riqueza natural.




Talvez o ponto mais negativo do filme seja o vilão escolhido para causar os eventos que impulsionam o progresso da trama. O Barão Zemo teve sua origem, nacionalidade e até patente alteradas, mas isso não seria tão desastroso caso sua participação fosse mais efusiva. Ao atuar nos bastidores para manipular os heróis sem realmente confrontá-los diretamente ele se assemelha bastante ao Lex Luthor (ugh) de BvS - novamente, é difícil fugir das comparações. No entanto o roteiro consegue validar suas ações e até mesmo humanizar o personagem, possibilitando novamente a alteração de paradigma e perspectiva nos pós-eventos envolvendo seres super poderosos.

Alguns personagens como Gavião Arqueiro e Homem Formiga são pouco desenvolvidos visto o grande número de situações e ritmo acelerado que a ação do filme necessita. No entanto todos possuem seus momentos de glória e destaque durante o desenrolar dos eventos, inclusive há espaço para o vislumbre da possibilidade de uma reedição do famoso romance dos quadrinhos entre Feiticeira Escarlate e Visão. Guerra Civil conquista seu espaço dentro dos grandes filmes de super herói conseguindo unir os principais fatores que prendem o público: diversão, ação e uma boa história. E claro, nos brinda com um Homem Aranha que faz menção aos filmes de Star Wars.